Não sei quem disse "recordar é viver", mas sei que o saudosismo está em alta no facebook.
Inúmeras são as fotografias de pessoas enquanto infantes. Umas verdadeiras gracinhas!
Parece que a vida de adulto não é como pensávamos, pois se houvesse um gênio para realizar um pedido quando criança, seria para nos tornar "gente grande", era o desejo de todo infanto-juvenil.
Percebeu-se que a vida de "gente grande" não tem nada de grande, é apenas um momento de ilusória liberdade e de poder. Perdemos a graça.
Ao tornamo-nos adultos deixamos a inocência e passamos a conviver com a malícia, com a sapiência dúbia de bondade e maldade. Ser criança é diferente. Não precisa se preocupar com maldade, ela não existe, muito menos a intolerância tão precisa nos dias de hoje.
Ser adulto, realmente, não tem graça. O adulto precisa ser responsável pela sua felicidade e tomar cuidado para não causar a infelicidade alheia, ele tem que dormir preocupado e acordar de mesmo modo. Mais ainda, as lembranças da fase adulta são quase inexistentes, todavia as lembranças da infância são inúmeras e saudavelmente risíveis. Quer coisa mais engraçada de que chegar para o pai e para mãe, acusando o amiguinho de "arengar"?.
Ser criança é muito bom! Todo mundo acha a coisa mais fofa do mundo, todo mundo quer pegar e ofertar carícias. Já o adulto precisa investir num projeto para conseguir algum afago. A criança é boa, o adulto é mau.
A criança brinca de polícia e bandido sem nenhum dos dois sair perdendo; nessa brincadeira, os adultos fazem muitas pessoas perderem.
Talvez, a crescente postagem de fotos infantis faça-nos esquecer que somos adultos e nos torne mais criança, ou pelo menos convide algo inocente para incorporar em nós. Talvez, mais só talvez, possamos olhar um para o outro e lembrarmos que algo de criança ainda pode se manifestar nos amigos-adultos, e assim marcarmos para brincar com brinquedos sem valores mercantis, mas com valores simbólicos que dinheiro nenhum pode comprar. Lembram-se de que tudo virava brinquedo nas nossas mãos? A criatividade era a inteligente e necessária fuga da dificuldades financeiras. Pois é, éramos mais pobres, porém muito felizes. Já hoje, somos menos pobres e não necessariamente mais felizes, somos realizados materialmente, mas não substancialmente.
Mas o que aconteceu? Ora, crescemos, perdemos a graça. Viramos o que sempre quisemos, viramos "gente grande".
Ouvi comentários de alguns, afirmando serem bobagens essas postagens de fotos infantis, mas elas têm que ser isso mesmo, porque ser criança é ser bobo; a criança pode e deve errar, pois isso não significa seu declínio, no máximo, um gargalhada alheia.
Ser adulto é coisa diferente, nosso ponto de encontro é no barzinho, outrora era a própria rua do bairro. Ser criança é viver aprendendo, ser adulto é viver perdendo. Ataulfo Alves já disse: "Eu não sei pra que a gente cresce se não sai da gente essa lembrança".
Enfim, não dá pra deixar de ser adulto e nem dá pra continuar vivendo como criança, pois, quando criança, podíamos brincar de adultos, agora somos adultos e não podemos brincar de criança.
Deu-me uma vontade de ver o pica-pau!
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